O Conflito Como Herança da Sociedade


Publicado em:
13/09/2023
Mariana Pedrosa
Mariana Pedrosa
Advogado

É de fácil compreensão e de saber disseminado que as relações interpessoais, desde os períodos mais antigos da sociedade, são marcadas por discordâncias e conflitos entre os seres humanos, o que restou evidenciado pelo dramaturgo romano Titus Maccius Platus (254-184 a.C.), que inseriu em uma de suas comédias, denominada “Asinaria”, a frase “Lupus est homo homini, não homo, quom qualis sit non novi”, que traduzida para o português, aproxima-se da expressão “Um homem para outro é como um lobo e não um homem, quando ele não sabe de que tipo ele é”.
A comédia acima discriminada, ficou também afamada por “A Comédia dos Burros” ou “Comédia do Asno”. A história contada na peça gira em torno do personagem Demêneto, esse, um senhor miserável e avarento, possuidor de um apego demasiado ao dinheiro e que de toda a forma, tentava ludibriar a sua própria mulher, que era rica, com o fim de obter vantagem econômica para si.
Centenas de anos após a afirmação de Titus Maccius, o filósofo Thomas Hobbes (1588-1679), trouxe uma maior divulgação da frase, em sua obra denominada “Leviatã”, onde o mesmo afirmou que o homem é o lobo do próprio homem, tendo em vista que este, através de seus instintos de autopreservação e egoísmo, seria capaz de colocar em risco a sua própria espécie, conforme elucidado pelo autor que afirmou que “como tendência geral de todos os homens, há um perpétuo e irrequieto desejo de poder e mais poder, que cessa apenas com a morte”. (HOBBES, 1651). A explicação para a afirmação, é pautada na ideia de que o homem é egoísta por natureza e que haja a vista a tal circunstância, guiado por suas vontades, os indivíduos, pensando apenas em si mesmos, agem, de maneira a alcançar seus objetivos independentemente dos meios adotados, evidenciando assim, a natureza má caracterizadora da espécie.
Cumpre destacar, em prosseguimento e em conformidade às ideias apresentadas por Hobbes, que o homem só viveria em paz caso se submetesse a um poder absolutista e centralizado, onde a única função do Estado, esse, soberano, seria a de manter a paz entre os cidadãos, possuindo poderes ilimitados para organizar a sociedade da maneira que melhor lhe aprouver e dessa forma, ao impor respeito e causar medo, o homem sairia de seu estado de natureza, por temer a sua vida. Nesse sentido, o homem abre mão de sua liberdade saindo deste estado e realiza um pacto, denominado pelo autor como “contrato social”, onde o indivíduo, ao abrir mão daquela, vai viver em sociedade, regida por um poder soberano propagador de medo, obrigando-se, através do contrato, o cumprimento deste.
Por conseguinte, explica-se o título da obra, que, retirada da mitologia fenícia, trata o Leviatã como um monstro gigantesco e habitante de um lago, que tinha como missão defender os peixes mais fracos dos mais fortes, agindo, em igual maneira, o Estado ideal para Hobbes, que defende a vida de todos e não permite aos seus cidadãos que atentem contra a vida uns dos outros e que, como meio de garantir tal circunstância, àquele impõe cumprimento ao contrato, através do medo causado, caracterizando-se assim, por ser forte, cruel e violento.
Ante o exposto, percebe-se que, conforme as obras filosóficas destacadas, bem como suas datas de publicação, o ser humano sempre viveu com o litígio.

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